Sabe aqueles momentos de sua vida em que você não sente o tempo passar? Ou em que parece que o tempo passou rápido demais e então você diz: "Ah! Que pena que já acabou"? Em que você fica melhor do que estava antes? Momentos que, logo depois, já o deixam com saudade, querendo em breve "repetir a dose"? E que fazem com que você se envolva completamente naquilo que está fazendo e, por alguns instantes, se esqueça de tudo o mais à sua volta?
Pode ser que você sinta isso quando vai ao cinema, ou quando pratica um esporte, ou quando se reúne com amigos, ou quando lê um bom livro, ou quando freqüenta sua igreja, ou quando está com a pessoa amada, ou com seus filhos, ou quando está trabalhando (se você gosta do que faz).
Agora uma outra situação: sabe quando você faz uma escolha na vida (um emprego novo, um curso, uma compra importante, um relacionamento) e depois de algum tempo surge uma insatisfação, como se "seu coração" estivesse lhe dizendo que sua escolha não foi boa? Que aquilo "não é para você"? E então você desiste daquela escolha, muda o rumo das coisas, e daí seu coração se aquieta, se alegra? E você finalmente se sente em paz?
É como se, internamente, possuíssemos uma espécie de "bússola" que nos guia, nos orienta, nos mostra qual caminho é bom para nós. E ela faz isto justamente através de nossas sensações, da "voz do nosso coração", de nossas sensações de prazer e desprazer, de paz ou de inquietação, de realização ou insatisfação. É como se esta bússola fizesse com a gente aquela brincadeira do nosso tempo de criança: "Tá esquentando, tá quente... Ih! Esfriou..."
Observe como uma criança é totalmente fiel às suas sensações. Geralmente, ela se afasta rapidamente do que não gosta, aproveita intensamente o que gosta, e não tem dificuldades para distinguir entre as duas situações.
Ao longo dos anos, é comum nos distanciarmos destas sensações, que ficam como que desconectadas, alheias a nós, como se criássemos um abismo entre elas e nós. É freqüente em psicoterapia encontrar pessoas desconectadas de suas emoções e sensações. São pessoas que às vezes se ferem sem gravidade e só o percebem bem mais tarde, ou que se esquecem de almoçar, de beber água quando estão com sede, de se agasalhar quando estão com frio. São também pessoas que colocam o bem-estar dos outros acima do seu próprio, que se preocupam em não deixar que o outro sofra mesmo que para isso ELAS tenham que sofrer. Que não dão atenção aos sinais de cansaço que seu corpo emite, ou às dores e sintomas que, na verdade, são recados do corpo, e cuja intenção é restabelecer a saúde e o equilíbrio. Por exemplo, às vezes uma dor persistente nas costas sinaliza hábitos inadequados, postura inadequada. Ou então problemas gástricos sinalizam uma alimentação que não faz bem àquela pessoa. Ou, às vezes, um problema de saúde qualquer sinaliza simplesmente que aquela pessoa está infeliz naquela situação. Lembro-me de um filme em que um jovem imigrante vai trabalhar em uma grande loja e, pela primeira vez na vida, começa a ter uma forte dor de cabeça, todos os dias. Depois de alguns meses vivendo este transtorno, ele pede demissão e a dor de cabeça sara no mesmo dia. Nunca mais ele tem dor de cabeça. Demorou alguns meses para que ele "ouvisse a voz do próprio coração" (e os recados do corpo) e tomasse uma atitude.
É comum que as pessoas fiquem "brigando" com a voz do coração. Por exemplo, quando se obrigam a fazer coisas de que não gostam, ou quando se obrigam a permanecer numa situação que há muito as desagrada: um emprego de que não gostam, um casamento que já não traz felicidade. Geralmente são pessoas que "se anestesiam" para não sofrerem muito e assim poderem ir sobrevivendo. Ou então compensam a insatisfação de outras formas: se atiram de cabeça no trabalho (para não pensar no casamento), ou na malhação, ou adquirem vícios (beber, fumar, etc.). O resultado é sempre insatisfação, infelicidade e distanciamento em relação às próprias emoções e, o mais importante, distanciamento em relação ao propósito de suas vidas, à sua razão de existir, à sua MISSÃO, um conceito que definiremos num artigo futuro e que, aqui, não tem conotação religiosa.
Outras conseqüências para uma pessoa que passou a vida toda andando na contramão do próprio caminho, do caminho ditado pelo seu coração, podem ser depressão, ou outro tipo de doença, amargura, desesperança, falta de vivacidade, de vibração e entusiasmo.
Retomamos agora a questão proposta em um artigo anterior: o que é liberdade? Liberdade é não ter planos e deixar que a vida nos leve ("Deixa a vida me levar...")? É ir ao sabor do vento? Ou liberdade é justamente o contrário: escolher para onde se quer ir (e batalhar por isso)? Podemos acrescentar a esta questão as idéias discutidas hoje e assim ampliar o conceito: talvez liberdade seja guiar-se pela voz do coração, pela bússola interior, para saber aonde ir e então poder fazer planos (ter um Projeto de Vida, como explicamos num artigo anterior) para chegar lá. É uma questão que nos convida à reflexão (e cujas conclusões aqui propostas não se pretendem definitivas, estando abertas à discussão).
E você, leitor, o que pensa a respeito? O que sente quando pensa nesta questão? Como tem usado sua bússola interior? Como lida com suas sensações e emoções? Dá atenção a elas, procura entender qual o recado que têm para você, ou procura anestesiá-las? Por exemplo, quando está triste (ou insatisfeito, ou com raiva, etc.), dá atenção a sua tristeza, procurando fazer algo em relação ao que a está causando? Da mesma forma, quando você sente algum tipo de dor, procura saber o que seu corpo está sinalizando (hábitos inadequados, falta de repouso, etc.)? Ou "passa batido", esperando que seu corpo "grite" para então tomar uma providência (por exemplo, deixando que a dor se torne insuportável para então procurar um médico)? Você se deixa guiar pela voz do coração? Confia nela? Tem se permitido bons momentos (aqueles em que não percebe o tempo passar)? Ou os bons momentos são raros (só nos finais de semana ou nas férias)? Tem a sensação de estar andando no "seu caminho", aquele que é bom para você? Ou sente que há muito se afastou dele?
Daremos continuidade a este assunto no próximo artigo, em que falaremos a respeito de PAIXÕES.
Gostei muito do seu artigo. Bem oportuno para este começo de ano. Obrigada e parabéns!
ResponderExcluirOlá, Ana
ResponderExcluirMuito obrigada pelo comentário!
Bjs
Gostei muito do artigo e de seu blog. Na correria do dia-a-dia acabamos deixando nossos sentimentos de lado.
ResponderExcluirUm abraço.
Francisco Ruiz.
Oi, Francisco
ResponderExcluirQue alegria receber seu comentário! Obrigada!
E vc, já fez seu blog? Me avise.
Abraços,
Nelly