Responda rápido e sinceramente: o que você tem feito em sua vida que lhe dá prazer? Com que freqüência você tem tido momentos de prazer?
Vamos comparar estes momentos de prazer ao ato de respirar. Você é do tipo de pessoa que "respira" no final de semana, daí prende a respiração durante toda a semana e só volta a respirar no próximo final de semana? (Ou, o que é pior, daqui a um ano, nas próximas férias?)
Vamos agora pensar na palavra LAZER. Qual a importância que você atribui ao lazer em sua vida? Para você (como para muitos) lazer é supérfluo? É a primeira coisa a ser riscada da lista quando o tempo (ou o dinheiro) está escasso?
Pelo que você tem paixão em sua vida? Aquelas coisas que despertam seu interesse, que fazem você parar o que está fazendo para poder prestar atenção a elas, que fazem com que seus olhos brilhem, seu coração se alegre e seu rosto se ilumine? Pode ser que você se sinta assim em relação ao seu time favorito, ou em relação a algum hobby, ou algum assunto sobre o qual esteja muito interessado, ou em relação a pessoas de quem você gosta muito.
Há pessoas que respondem a esta questão da seguinte forma: "Não sei o que me dá prazer. Ultimamente não tenho feito nada que me dê prazer".
A incapacidade de sentir prazer é chamada de anedonia e faz parte de alguns quadros psiquiátricos, principalmente quadros de depressão. Neste caso, a pessoa deixa de sentir prazer, quer em novas atividades ou em atividades que antes eram prazerosas. É apenas um dos sintomas da depressão que, como se sabe, é uma doença que precisa ser tratada, geralmente com medicação ou psicoterapia, ou ambas - um profissional (médico ou psicólogo) é quem poderá avaliar a necessidade de cada caso.
Excetuando-se esta situação acima, em que a falta de prazer se deve a uma doença, há outros casos mais simples, dentre os quais a maioria de nós provavelmente se encaixa.
Numa primeira possibilidade, não é que não tenhamos capacidade de sentir prazer, mas sim que não estejamos nos permitindo momentos de prazer. Sabemos do que gostamos, mas por várias razões (por falta de tempo, ou de dinheiro, ou por acomodação, ou por medo, ou por timidez) não vamos em busca disso.
Uma outra possibilidade ocorre quando, ao longo dos anos, em virtude das obrigações que nos impomos, vamos restringindo nossos interesses, limitando nossa vida ao estritamente necessário, usando nossa energia para as tarefas que julgamos "importantes", e abandonando completamente aquelas consideradas "supérfluas" (lazer, prazer). Ficamos tão focados em nossas obrigações que nem percebemos o que está ao nosso redor. Daí alguém nos pergunta: "O que você achou da fachada daquele novo restaurante perto de sua casa?" E então respondemos: "Que restaurante? Não vi nenhum restaurante perto de casa". Não prestamos mais atenção às novidades. Olhamos e não vemos. Fazemos sempre os mesmos caminhos. Não nos entusiasmamos, não temos mais aquela curiosidade igual à das crianças, para quem tudo é interessante, tudo chama a atenção. Ficamos completamente "por fora" quando alguém comenta sobre um filme, um livro, um lugar, como se fôssemos de um outro planeta.
Esta estratégia poderia ser considerada como de sobrevivência, pois guarda recursos e energia para o que é essencial. Mas é uma estratégia equivocada. Pois sabe-se que um indivíduo que possui um leque de interesses variado tem maior probabilidade de lidar de forma satisfatória com o stress, tem menos depressão e menos problemas de saúde. Isto ocorre porque, tendo muitos interesses, terá maior probabilidade de ter momentos de prazer ao longo do dia (não apenas nos finais de semana). Estes momentos de prazer, que muitas vezes são breves, permitem que recarreguemos nossa bateria. Considere o seguinte: quando executamos tarefas (resolvemos problemas, superamos obstáculos), gastamos energia. Quando temos momentos de prazer, quando nos permitimos ir em direção àquelas coisas que despertam nosso interesse, repomos energia (recarregamos a bateria). Sendo assim, quem tem um leque de interesses maior, tem mais energia, está sempre com a bateria carregada.
Talvez você esteja pensando: "Meu leque de interesses não anda muito variado..." O que fazer? Ampliar o leque, é claro. "Mas como?" - você pode estar se perguntando. "Não sei do que gosto". Neste caso, uma alternativa seria experimentar novas coisas, a fim de descobrir aquelas que possam ser interessantes para você. Arrisque-se, ouse. Aventure-se por novos caminhos.
Os interesses que temos na vida funcionam como ímãs que nos atraem, que nos impulsionam, nos levam adiante, que nos motivam a sair da cama pela manhã todos os dias. Eles vão recheando nossa vida, alegrando-a, enfeitando-a, dando-lhe um colorido especial.
Aquelas pessoas a que nos referimos acima, que estão sempre com a bateria carregada, fazem ainda algo mais com o "leque" e com os "ímãs": vão intercalando as atividades do dia com breves momentos prazerosos. Por exemplo, se precisam ir de ônibus até o trabalho, certamente vão levar consigo algo que possa tornar a viagem mais agradável: um bom livro, uma revista, um CD Player, I-Pod ou mesmo um radinho de pilhas. Se o chefe solicitar um extenso relatório, elas farão várias pausas: vão navegar na Internet, vão à sala ao lado, conversar um pouco com o colega, vão tomar um cafezinho. Enfim, divertem-se com facilidade, gostam de muitas coisas, e assim garantem um suprimento constante de energia, de forma a poderem sair do trabalho com energia suficiente para enfrentar um outro compromisso. Bem diferentes daquelas pessoas que "mergulham no relatório" e só param quando conseguem terminá-lo - completamente extenuadas, sem energia para chegar em casa, conversar com o marido (esposa) e brincar com os filhos. Estas pausas, diferentemente do que se pensava há um tempo atrás, não "roubam" tempo do trabalho, pelo contrário, aumentam a produtividade. Tanto é que muitas empresas, sabendo disso, implantaram pausas após o almoço (com a possibilidade inclusive de tirar uma soneca), horário flexível, cabeleireiro no local de trabalho, sala de ginástica, etc..
Uma última sugestão: adquira o hábito de ter sempre uma fila de coisas interessantes para fazer quando tiver tempo. Isso significa que se você vai a uma livraria e vê um livro interessante, se puder, compre-o. Não use como desculpa "Ah! Eu não vou ter tempo mesmo..." Compre e reserve. Faça o mesmo com outras coisas: filmes, coleções, CDs, etc. Você pode colocar nesta fila, "mentalmente", outras coisas como lugares que você quer conhecer, cursos que deseja fazer. De forma que as coisas interessantes sejam sempre em maior número do que as horas de lazer que você tem (e você deve, precisa e merece ter muitas). Assegure-se de que em sua fila sempre existam muitas opções interessantes e prazerosas esperando por você. Tanto que se você ficasse um mês sem trabalhar, teria com o que se divertir todos os dias, não seria pego de surpresa ("E agora? O que eu faço?").
Hoje falamos de respiração, bateria, leque, ímã, fila... Sem contar que em artigos anteriores falamos sobre pizza, projeto, intersecção, bússola. Esperamos que a "bagagem" de recursos internos de cada leitor esteja sendo ampliada a fim de que tenha à sua disposição novas "ferramentas", que lhe permitam novas maneiras de ver a vida, resolver problemas, atingir objetivos e, é claro, ser feliz.
Olá Dra. Nelly
ResponderExcluirEu já acompanhava seus artigos através do seu site. Agora vou lê-los aqui também. São muito bons.
Um forte abraço do Júlio
Oi, Júlio
ResponderExcluirObrigada pelo elogio e pela visita.