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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

6 - “EU GOSTO QUANDO...”

Muitos casais compartilham da crença segundo a qual se deve ser absolutamente franco, apontar tudo aquilo que o outro faz e que incomoda, “discutir a relação”, como se estivessem sempre “dando choques” um no outro a fim de “corrigir” problemas e, talvez até, de “corrigir” o próprio parceiro.
Assim como muitas outras crenças que as pessoas têm com relação à vida e aos relacionamentos, e que costumam ser fonte de dificuldades, esta merece um trabalho de revisão e questionamento. Muitas destas crenças foram formadas quando não tínhamos maturidade suficiente para avaliá-las de forma crítica, tendo sido herdadas de nossos pais, inculcadas pela mídia, pelos modelos que a nossa cultura valoriza e até mesmo pelas histórias infantis que ouvimos quando crianças.
O primeiro ponto que é preciso ressaltar nesta forma de lidar com problemas é que ela é aversiva, causa stress, pode colocar o outro na defensiva, uma vez que ele poderá sentir-se criticado. Pode também gerar desejo de vingança, o que ocorre quando o que foi criticado começa a levantar o histórico do parceiro, lembrando-o de todas as vezes em que ele também se comportou de forma inadequada. E então a história pode se tornar uma bola de neve, ou mesmo um padrão no relacionamento a dois, uma seqüência condicionada de eventos que ocorre automaticamente, sem que os parceiros se dêem conta.
Além disso, esta estratégia geralmente não cria novos comportamentos adequados. Diríamos que, “com sorte”, ela talvez iniba os comportamentos inadequados, mas não cria nada em seu lugar.
A questão que se coloca é: será que tudo o que incomoda deve ser comunicado? Será que a comunicação verbal é a única estratégia para estes casos? O que acontecerá se não for comunicado? E, da mesma forma, o que acontecerá se for comunicado?
Estas verificações são importantes porque normalmente as pessoas ficam condicionadas a determinados processos de solução de problemas, ficam presas a eles de forma que sua criatividade fica completamente bloqueada, ou seja, acabam agindo do jeito que sempre agiram. Às vezes nem param para observar que a estratégia que vem sendo adotada por longos anos nunca produziu resultados positivos.
Uma outra forma de lidar com comportamentos que desagradam é reforçar positivamente o comportamento oposto, se possível, no momento em que ele ocorre. Assim, se o marido se atrasou para o jantar, a esposa poderia, nos dias em que ele chega pontualmente, fazer um comentário positivo, que expressasse sua alegria por ele haver chegado no horário combinado.
Também em relação à vida sexual é possível usar a estratégia sugerida acima. É muito comum que os casais se critiquem com frases do tipo “Por que você nunca...”, ou então “Eu odeio quando...”. Mudando-se a frase, teríamos: “Eu gosto quando...”, sinalizando ao parceiro aquilo que é desejável, ao invés de cobrá-lo ou criticá-lo.
Desta forma, se o parceiro faz o que o outro pede, fica com a impressão de que está apenas repetindo algo que já fazia, que é capaz. Ou seja, sua auto-estima é protegida. De forma inversa, quando o parceiro faz o que o outro exige e cobra, poderá ficar com a impressão de que está assinando uma confissão de culpa, concordando com a crítica e com a acusação de ser inadequado, incompetente, etc.
Muitas outras crenças são geradoras de conflitos entre os casais e merecem uma avaliação crítica, como, por exemplo: “os casais devem fazer tudo junto”, “não deve haver nenhum segredo entre marido e mulher”, “se não há ciúme, é porque não há amor”, dentre outras.
À guisa de conclusão, vale lembrar que, mais que um simples jogo de palavras, a estratégia aqui sugerida precisa se constituir numa postura diante da vida, num modo de ser no mundo, que não se restringe unicamente ao relacionamento afetivo, mas que se estende a todos os relacionamentos e situações.

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